domingo, 26 de fevereiro de 2017

Encore Duras


Music: Virginia Astley






J'ai eu un frère qui est mort pendant la guerre. Il était très jeune, il avait 27 ans... Il est mort en quelques jours et on me l'a télégraphié. J'ai voulu mourir, j'ai voulu mourir, je ne sais comment m' empêcher de mourir, je me jetais la tête contre les murs, je voulais me casser la tête contre les murs, je ne pouvais absolument pas tolérer la mort de ce jeune frère, absolument pas. 
Puis, j'ai pensé souvent après à çà. Je me (?) quand même... c'est étrange de souffrir à ce point là, à ce point là, enfin, c'est la mort d'un frère, et j'ai découvert, j'ai découvert, oui tardivement que je l'avais sans doute aimé... plus que tout. Mais il était tellement... il était un peu comme çà, un peu simple, un petit peu silencieux, un petit peu... en retard, disons. Je l'ai toujours appelé mon petit-frère et on était inséparable complètement. 





Chaque phrase, chaque écrit a en lui tous les sens du monde, comme chaque homme a en lui tous le sens de la création du monde et que, le limiter à une interprétation, c'est le limiter complètement, c'est le tuer. Tu peux dire "Bonjour Madame, comment allez-vous aujourd'hui?, il fait beau, il va sans doute pleuvoir", etc..et çà peut tout contenir : toute l'espérance du monde et tout son désespoir. Il suffit de reprendre les choses à leur départ, si tu veux, une sorte de l'ère primaire du sens. J'en suis sûre comme je respire et c'est ce que je fais avec mes textes. Je les reprend presque avant moi, quand ils étaient je ne sais pas où et que je les ai déniché, je les ai capté, si tu veux. Je pense que c'est ça qui se passe.




L' inceste c'est, si vou voulez, la coïncidence miraculeuse entre la passion et le  lien parental. Qu'est-ce qui peut être au-delà de ça, d'avoir une petite enfance commune et de  (la?) semer de passion? Rien. Rien, absolument rien ne peut exister en regard de ça. Rien de plus fort, je veux dire, de plus probant, de la passion. Et, si vous voulez, le lien parental este dans ce cas-là une sorte d' aboutissement de la passion. J'ai impression que tout amour, toute passion enfin, étrangère à l'inceste, tend à ça, à la reconstitution, retrouvaille de ce lien là, du lien parental, qui est un lien absolu. 



Je crois que la vie est une vaste rigolade, c'est quand même d'un vague extraordinaire... les gens s'aiment sans le savoir, ils sont intelligents sans savoir ce que c'est l'intelligence, ils parlent de Dieu sans avoir la moindre prémonition de ce que j'appelle cet accident mathématique fabuleux qu'est la création, etc, etc, alors quand même il y'a ça qui a été donné, cette perfidie dont on a parlée tout à l'heure, du désir, de la passion, de l'amour, qui vous fait, qui vous donne l'illusion d'exister... c'est très bref.


(Ajuda para colmatar erros será bem-vinda!) 



India Song



Carlos D'Alessio


Richard Jobbson


Jeanne Moreau

Les Mains Négatives



Marguerite Duras, 1978

Un chant d'amour



Jean Genet, 1950

Film


Alan Schneider / Samuel Beckett / Buster Keaton

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Tiny Children






as crianças pequenas
têm um modo especial de cair,
porque ainda tão próximas do solo,
e um modo diferente de falar: ainda
não vêem letras quando falam. o esquecimento
de cada instante, os joelhos esfolados. e
dentes novos, claro. e as mãos que tentam
falar como palavras a sério.



Yep, only in it for the money




The Mothers of Invention: We're only in it for the money (1968)

Gerhard Richter
















Rufige Kru


Uivo





Sendo a memória o que é, eu diria que terá sido pelo verão de 1983; ou talvez a primavera desse ano tenha sido demasiado quente, talvez o calor do verão tenha entrado Outono dentro… Não sei, apenas tenho o calor colado à memória. Verão de 83. Bonito quando se escreve e quando se lê.
Em casa, quando não estava a ouvir discos ou cassetes, estava com o rádio ligado. Ouvia imenso, ouvia e conhecia todos os êxitos que a rádio passava. Era um adolescente informado, pensava eu. Uma rotina ininterrupta. Até que, numa tarde de verão, pensei que todas aquelas músicas se pareciam demasiado umas com as outras. Para afastar o tédio, comecei a rodar o sintonizador do rádio e, desprevenido, vou parar a uma estação onde apanho um tema que nunca tinha ouvido – facto que achei completamente bizarro. Julgo que terá sido a curiosidade de identificar aquele objecto estranho, aliada à absoluta frescura da música, que me fizeram permanecer ali, em silenciosa atenção. Seguiu-se outra música, tão desconhecida quanto a anterior e ainda mais excitante. Depois, entrou a voz, aquela voz poderosa e que condizia na perfeição com toda a música que passou até ao fim do programa. Todas as canções tocadas me eram desconhecidas e todas elas me pareceram soberbas (penso que me lembro de “Rainy Season” de Howard Devoto, de “She’s in parties” dos Bauhaus e, talvez, Wall of Voodoo – “Lost Weekend”? “Ring of Fire”? – até os nomes das bandas eram excitantes: Bauhaus, Wall of Voodoo, The Cure, Cabaret Voltaire, The Fall…  Mas talvez Wall of Voodoo tivesse sido no “caldeirão” de 1984. Lembro-me:  “Sexbeat” dos Gun Club ocupava o primeiro lugar).  
E foi um mundo que se abriu para mim. Uma descoberta que arrastou consigo outras descobertas e outros mundos. Outras maneiras de fazer música, de ouvir música, de viver. No dia seguinte estava lá outra vez e em todos os outros dias. Neófito, escrevia os nomes dos grupos e dos temas num caderno, não fosse esquecer-me de algum (cruzes, canhoto!)... Cassete pronta e os dedos no Rec e no Pause - que outra maneira tinha eu de, em Viseu, ouvir aquelas canções fora do horário do programa? (Evidentemente, as cassetes foram tocadas centenas de vezes e ainda guardo grande parte delas.)
O “Som da Frente”, que passava sempre demasiado rápido, era um luxo para quem, como eu, ainda estava a uns anitos de ir para Lisboa. Era uma saída para um mundo inteiro, para Londres e Manchester, Nova Iorque e Los Angeleles, para cidades onde as coisas aconteciam, onde pessoas faziam as coisas acontecer. Nunca mais a minha vida foi a mesma: foi a ouvir o programa que soube que a música faria parte de mim para sempre, como se, naquele momento de epifania, me tivesse verdadeiramente entrado no corpo e no espírito. E depois fui seguindo a voz por outros programas: o “ Lança-chamas” (embora a minha fase metal fosse bastante efémera) e o “Loiras, Ruivas ou Morenas” (o António e a Ana Cristina – e nunca consegui descobrir de quem era o genérico… - mas a Ana Cristina estava sempre lá, numa verdadeira partilha).
Nunca conheci o António Sérgio – lembro-me de ter ficado espantado quando o vi numa publicidade ao “Som da Frente” (num número da Música & Som); aquele rosto não era , de todo, o que eu tinha, nebulosamente, formado na minha cabeça. Vi-o uma única vez, num começo de noite em que andava com uma amiga a deambular pelos eléctricos de Lisboa. Éramos os únicos passageiros, a luz amarela desmaiada, a cidade a passar muito devagar. E, de repente, ambos nos levantámos e gritámos: “Olha o António Sérgio!”. Quisemos sair, mas a séria autoridade do condutor informou-nos que apenas podíamos sair na paragem seguinte. Acho que, para mim, foi um alívio – que lhe ia eu dizer, a timidez a enrolar-me as palavras? Um obrigado que talvez nenhum dos presentes iria perceber (incluindo eu – mas que raio é que acabei de dizer?), fazendo uma figura ridícula que ele iria levar rua fora enquanto sorrisse e pensasse na gente maluca que andava por Lisboa... 
Depois foi aquele percurso repleto de acidentes, horários madrugada dentro, impossíveis de seguir por quem tinha que despertar a horas escandalosas, mudanças de rádios - sim, houve a pequena esperança chamada XFM, mas tão efémera... - e a barbarização da rádio (que acompanhou a dos outros media, principalmente a da televisão), a ideia sinistra das playlists, a implantação da total boçalidade (na rádio e na sociedade) e a recusa de reconhecer o outro, de aceitar a existência do outro. Ainda e sempre “o direito à diferença”, talvez hoje como nunca.

Obrigado, António.   



Texto publicado (truncado) em O Uivo da Matilha - tributo a António Sérgio e à Rock 'n' Roll Radio (El Pep / Raging Planet / RR / Glam-O-Rama Rock Shop,  2014)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Nick Cave (& The Cavemen)


Peel session (1984): a versão de I Put a Spell on You fica aquém do original (há alguma, sequer, que rabisque a glória do original?), mas From Her to Eternity e (sobretudo) Saint Huck surgem aqui demolidoras (o fade out em Saint será opção da banda ou será para não apanhar a voz de John Peel?).
E com isto fui buscar o From Her to Eternity à prateleira: ainda inacreditável.



Nurse With Wound


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Maya Deren


Meshes of the afternoon (1943)




Ritual in Transfigured Time (1946)




Alexander Hammid & Maya Deren: The Private Life of a Cat (1947)