domingo, 2 de julho de 2017

Wislawa Szymborska







FOTOGRAFIA DE 11 DE SETEMBRO

Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns,
mais acima, mais abaixo.

A fotografia deteve-os na vida,
e agora preserva-os
sobre a terra rumo à terra.

Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.

Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.

Ainda estão ao alcance do ar,
no âmbito dos lugares
que acabaram de se abrir.

Só duas coisas posso por eles fazer
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.



Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Nunes, Instante, Relógio d'Água, 2006

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