Rua da Academia das CiênciasProcurei os teus olhos quis acharnos teus olhos a luz que nos salvassemas tu não tinhas olhos tinhas plateiasno Liz, no S.Luiz e no Terrasse
Busquei teu coração, não desisti à primeira,teu seio arfava arfava docementepor força que por baixo que por dentrotinhas um coração terno como gatinhosmas afinal não tinhas coração tinhas um sacocom Jean-Paul Sartre e rendas a cinquenta o metroDe forma que o entrar nas tuas pernasfoi como entrar num Tribunal de Contas:não tinhas sexo, tinhas um juiz de paz,arroz, licores, outro noivo, e gritinhosO Raul Leal eraO Raul Leal eraO único verdadeiro doido do "Orpheu".Ninguém lhe invejasse aquela luxúria de fera?Invejava-a eu.Três fortunas gastou, outras três deuAo que da vida não se esperaE à que na morte recebeu.O Raul Leal eraO único não-heterónimo meu.Eu nos Jerónimos ele na vala comumQue lhe vestiu o nome e o disfarce(Dizem que está em Benfica) ambos somos umDos extremos do mal a continuar-se.Não deixou versos? Deixei-os eu,Infelizmente, a quem mos deu.O Almada? O Santa-Ritta? O Amadeo?Tretas da arte e da era. O Raul eraOrpheu.
domingo, 3 de setembro de 2017
Mário Cesariny
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