segunda-feira, 11 de setembro de 2017

s/ título


os cães anunciam o regresso dos caçadores que 
em breve estarão na casa, os passos mais pesados, talvez;
a voz continua: como posso assegurar-te as qualidades
do meu amor, o seu tempo de vida, a resistência
aos dias? não darei vida à tua morte e estou longe 
de ser um detective a preto e branco – vês no meu olhar 
algo que pressagie o seu olhar, o fogo ao verificar 
que o seu amor trouxe por fim uma Eurídice 
dos mortos? há outra voz, isto é, naquele instante 
voz nenhuma: hesita, procura as palavras: como assegurar 
a eternidade do fim dos filmes? (lembrei-me: as vozes existem
no silêncio?) outros passos agora, de novo em direcção 
à janela, já os vejo. (sim, suponho que sim – falo sempre 
quando estou só, asseguro-me que ainda existo, 
que ocupo um espaço). e depois, mais nada: 
a casa invadida, o entusiasmo das crianças, alguns 
cadáveres ainda com o sangue quente.     

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